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Precisamos ser clássicos – Por Alessandra Cerri

Imagine que você é um carro…. que carro você seria? você se consideraria um carro velho, um carro moderno, novo ou um clássico? Quando eu era criança fui muitas vezes com meus pais em exposições de carros antigos. Lembro de ver aqueles carros, que para mim eram velhos, parados e as pessoas encantadas admirando. Diante daqueles mais famosos era comum se ouvir “esse é um clássico”… quando aquelas “latarias velhas” começavam a desfilar, funcionando perfeitamente, levando seus orgulhosos condutores eu ficava impactada por ver que ainda andavam e prestavam a seu propósito.

Outro dia também um arquiteto mostrando um objeto de decoração muito antigo o apresentou com muito contentamento e reverência como um clássico da decoração. Não por acaso, (jamais acreditei em acasos) esses dias assisti uma aula do sábio Mario Cortella sobre o velho e o clássico e ela me fez refletir muito sobre o clássico na vida.

Vivemos num mundo do descartável, das mudanças instantâneas e das relações superficiais. E, claro que, nesse mundo veloz e de preocupação extrema com as aparências o estar velho e o envelhecer causam medo, insegurança e pode ser um fator de exclusão, já que na visão de muitos o velho está associado a algo para ser descartado.

Assim sendo, ficamos velhos quando simplesmente nossa idade cronológica (tempo chronos) nos define. Envelhecemos sim, diariamente (esse é o privilégio de estar vivo), mas não precisamos nos tornar ultrapassados, obsoletos e nem sem serventia uma vez que nossas ações e pensamentos podem nos colocar no tempo kairós, um tempo mais qualitativo não medido por anos e sim por experiências.

Dentro dessa perspectiva, Mario Cortella em sua infinita sabedoria, afirma que devemos ser clássicos uma vez que esses não envelhecem, embora sejam antigos, eles tem vitalidade pois passaram por transformações e adequações, mas não pereceram.

A partir do momento que não estabelecemos novos objetivos, que não nos permitimos o novo ou ficamos negando a passagem do tempo estamos nos tornando velhos, estamos simplesmente deixando que a idade cronológica nos imponha o ritmo e o tipo da caminhada.

Quando no entanto, acompanhamos essa evolução do tempo de maneira ativa, e participativa, aceitando o caminho mas fazendo as adaptações e as transformações conscientes e necessárias conservamos nossa vivacidade e passamos a ser agentes de nossa própria caminhada rumo a metas e desejos estabelecidos.

Segundo Heráclito, a vida é movimento, ela é dinâmica e muda o tempo todo e nós precisamos fazer ajustes e estabelecer novos e pequenos objetivos constantemente para assim continuarmos gerando energia e atuando em nossa própria trajetória.

Voltando aos nossos carros, precisamos ser clássicos: podemos sim ter um ano de fabricação antigo, mas precisamos continuar andando e mudando o caminho quando a estrada for muito difícil e exigir muita potência.

Precisamos valorizar nossas peças originais pois elas evidenciam a importância da nossa história. Precisamos fazer as manutenções necessárias e frequentes para preservar nossa funcionalidade mas sem perder as características do nosso modelo afinal, os clássicos são notórios pois venceram o tempo e se mantém desejados, interessantes mesmo diante de tanta tecnologia e mudanças.

 

 

* Alessandra Cerri é sócia-diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba (Clap); mestre em Educação Física, pós-graduada em Neurociência e pós-graduada em Psicossomática.

 

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