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O experimento da bola e a exclusão – Por Alessandra Cerri

Imagine que você foi convidado para jogar bola e quando você vê a bola está sendo jogada somente entre duas pessoas e nunca é passada para você…qual seria sua reação? Que sentimentos isso despertaria em você?

Essa situação desagradável foi criada num dos muitos experimentos citados pelo neurobiologista Robert Sapolsky para estudar as reações cerebrais e o impacto nas emoções diante da exclusão/rejeição.

No experimento em questão, feito com adultos e adolescentes três pessoas são convidadas para jogar bola, mas depois de um determinado tempo somente duas pessoas (pesquisadores disfarçados) ficam jogando bola entre si, deixando a terceira pessoa de lado, sem participar do jogo.

Durante o experimento, ou melhor durante o “jogo”, análises cerebrais e comportamentais eram feitas para se entender o cérebro diante de situações desagradáveis e frustrantes como ser excluído de um jogo que, em princípio, a pessoa foi convidada a participar.

O resultado mostrado pelos pesquisadores foi diferente entre adultos e adolescentes. Entre os adultos o momento da exclusão foi sentido e sinalizado no cérebro através da diminuição dos níveis de dopamina (neurotransmissor envolvido na felicidade e motivação) e; aumento da ativação de áreas cerebrais do sistema límbico envolvidas na raiva e tristeza. No entanto, essas alterações foram rápidas, sendo interrompidas pela ativação das áreas frontais do cérebro envolvidas no raciocínio e interpretação de eventos; como se o adulto parasse e refletisse “fui excluído, mas e daí? Qual a importância desse jogo na minha vida?”

Essa área frontal, que segundo Paul Mac Lean (criador da teoria do cérebro trino) só se desenvolve completamente por volta dos 21 anos de idade fez com que no caso dos adolescentes a resposta tenha sido bem diferente… em função da imaturidade funcional dessa área executiva cerebral a interpretação de eventos como esse é muito mais dramática/emocional  e sofrida. Para esses indivíduos o sistema límbico (sistema das emoções) está super estimulado, ou seja as emoções estão sempre à flor da pele.

Assim sendo, eventos de exclusão ou rejeição fazem com que áreas como a amigdala cerebral e ínsula (ligadas a raiva, tristeza, medo) sejam super reativas e, em contra partida, a imaturidade do cortex pré frontal (CPF), dificulta uma interpretação mais criteriosa e racional. Dessa forma, essa reação é prolongada e muito mais intensa.

Agora imagine os danos emocionais de eventos como esse em jovens que por ventura passem por vários episódios de exclusão ou que estejam passando por outros problemas emocionais, familiares ou problemas de baixa auto-estima…

Ou seja, esse experimento embora simples nos traz pelo menos, dois significativos alertas: primeiro, a importância de se estimular e reforçar constantemente nosso córtex pré-frontal, nossa grande área executiva através de atividades físicas, atividades de estimulação cognitiva como leitura, jogos de raciocínio, e atividades de socialização pois fortalecendo essa área melhoramos a produção de neurotransmissores importantes para a sensação de bem estar como dopamina, serotonina; racionalizamos mais as informações, o que faz com melhoremos a nossa interpretação de eventos e, consequentemente, diminuímos nossa vulnerabilidade emocional. Isso serve para adultos e adolescentes.

E o outro alerta, serve para profissionais que trabalham com adolescentes pois evidencia a importância de se promover atividades que favoreçam a participação de grupo, evitando com isso as chances de eventos excludentes. Infelizmente nossa cultura do rendimento, do espetáculo “perfeito” faz com que muitos educadores promovam a exclusão dentro do esporte e atividades coletivas.

O aumento preocupante de casos de depressão, auto mutilação e violência entre os jovens está pedindo por atitudes mais humanas e o papel de educadores, treinadores que desenvolvem trabalhos com adolescentes é muito sério e pode fazer a diferença na vida deles tanto positiva quanto negativamente. Ter uma visão empática, colocar-se no lugar deles entendendo que as emoções deles são mais sentidas que as de um adulto pode fazer com que caminhos diferentes, mais inclusivos, mais saudáveis e menos perfeccionistas sejam adotados.

Finalizo o texto de hoje com uma frase que me parece ser de Eleanor Roosevelt, que acredito caber muito bem aqui “Para cuidar de si mesmo, use a cabeça. Para cuidar dos outros, use seu coração”. Até a próxima, namastê!

 


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