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A primeira impressão é que fica, só que não! – Por Alessandra Cerri

Há um tempo conheci uma pessoa e tive uma impressão negativa dela, a julguei antipática e arrogante e por um bom tempo alimentei esse julgamento pré concebido. Por obra do destino nós começamos a fazer aula juntas e qual não foi a minha surpresa ao descobrir que essa mesma pessoa é totalmente diferente: é simpática, bondosa e muito agradável de se conviver. A grande pergunta que fica: quem ficou diferente ela ou eu? O que mudou?

Felizmente, a neurociência tem trazido cada vez mais respostas para nossas perguntas e tem nos mostrado algumas descobertas importantes que por vezes tem derrubado crenças que alimentamos, erroneamente, em nossa cultura. Dentre essas crenças ou ditados populares estão dois que estão relacionados a nossa história inicial. A de que “pau que nasce torto nunca se endireita” e “a primeira impressão é a que fica”.

Quanto ao primeiro, a neurociência comprovou por meio da neurogênese e da sinaptogênese (o nascimento de novos neurônios e novas redes neurais) que assim como o cérebro pode se moldar e criar novos caminhos as pessoas também podem mudar e evoluir, desde que estejam dispostas a isso.

E quanto ao ditado que se refere a impressão que temos das pessoas e eventos, a ciência também nos traz achados interessantes e importantes e é sobre essa nossa impressão inicial que iremos nos ater mais nesse texto, talvez porque ela seja a melhor resposta para a pergunta inicial.

Toda informação que chega ao nosso cérebro vem por meio dos nossos órgãos do sentido (audição, visão, olfato, paladar e propriocepção). Dentre esses, vale ressaltar que a visão é o que utilizamos de maneira mais forte e dependente.

Sobre isso, o neurobiologista Robert Sapolsky nos alerta que “em geral nossos olhos carregam um implícito poder de censura” e isso pode estar relacionado ao fato de que quando olhamos para pessoas ou algo buscamos informações em “nosso banco de memória” na tentativa de comparar o que estamos olhando com dados armazenados. No entanto, infelizmente, temos uma tendência para armazenar de maneira mais marcante memórias com aspectos negativos.

Além disso, nossa visão assim como os outros sentidos podem ser influenciados pelos aspectos emocionais que nos envolvem no momento que a informação está sendo captada. Isso acontece porque toda informação que chega ao cérebro pode seguir por dois caminhos distintos.

De uma maneira simplificada, a informação recebida pode ir para nossa amigdala cerebral, que é uma estrutura que participa diretamente do nosso sistema límbico (cuja principal função é a coordenação e manutenção de nossas emoções); ou pode ir para nossa região do córtex que está envolvida com nossa capacidade de racionalização, análise, questionamentos e tomadas de decisão.

Ou seja, se no momento que eu estou recebendo uma nova informação, conhecendo uma pessoa ou frequentando um lugar novo eu não estiver muito bem, estiver irritada, triste, estressada essa primeira informação pode ser associada com alguma lembrança ou algum modelo errado de comparação, eu acabo tendo uma distorção da realidade, simplesmente porque eu estou mais emocionalmente vulnerável e negativamente condicionada.

Segundo Sapolsky, toda informação tende a chegar primeiro em nossa amigdala cerebral uma estrutura que por ser muito emocional, normalmente, tem como característica a avaliação imprecisa e distorcida da realidade, ou seja quando tomamos as informações de maneira impulsiva corremos o risco de assumi-las de maneira deturpadas o que pode alterar nosso julgamento.

Mais que isso, esse cientista assim como o neurologista Leandro Telles comentam que as áreas cerebrais envolvidas no estresse, na ansiedade e na depressão são as mesmas envolvidas na dor e estão diretamente relacionadas ao nosso sistema límbico. Em função disso, pessoas afetadas por essas síndromes tendem a ter uma percepção maior de dor e “fazem escolhas espantosamente ruins afogadas em suas emoções”.

Assim sendo, para impedir que atitudes impulsivas nos façam tomar decisões e julgamentos errados e nos impeçam de ver a realidade dos fatos nosso córtex tem que ser fortalecido e estimulado constantemente. De acordo com Sapolsky, o fortalecimento cerebral se dá pela aprendizagem, exercícios físicos e cognitivos, enriquecimento ambiental e social.

Somado a essas importantes recomendações finalizamos o texto de hoje com um precioso ensinamento de Epicteto passado por Sharon Lebell quando ela menciona que não são as coisas ou eventos que nos perturbam, mas a forma como interpretamos seu significado. Grande parte dos problemas do convívio com as pessoas está justamente na forma como as encaramos bem como as nossas atitudes frente a elas. Pense nisso, será que muitas vezes seus pensamentos pré concebidos, ou suas emoções mais negativas não estão te impedindo de ver as pessoas ou situações como elas realmente são? Namastê e até a próxima!

 

* Alessandra Cerri é sócia-diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba (Clap); mestre em Educação Física, pós-graduada em Neurociência e pós-graduada em Psicossomática.

 


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