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O Roubo do Enem é uma aula para a prática do bom jornalismo

O trabalho do jornalista (cuja data foi celebrada no último dia 7) é intenso e fundamental para determinar o caminho a ser percorrido pela sociedade. Para os que não estão acostumados com os bastidores do jornalismo, o longa-metragem “Spotlight-Segredos Revelados” pode servir como referência. O filme, baseado em fatos reais, retrata a investigação de um jornal norte-americano que revelou casos de pedofilia na Igreja Católica por seus sacerdotes. O grande furo de reportagem, com repercussão internacional, foi vencedor do Prêmio Politzer.

O processo de investigação durou meses. Diferente de um furo aqui no Brasil, em 2009, sobre o roubo de uma das principais avaliações para o ingresso em universidades, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Os repórteres do jornal O Estado de S. Paulo, Renata Cafardo e Sérgio Pompeu, tiveram apenas um dia para investigar e divulgar o caso. Tudo isso começou quando Renata recebeu o telefonema dos criminosos oferecendo um exemplar para a divulgação, mediante o pagamento de R$ 50 mil. Porém, este ato viola uma cláusula do Código de Ética do Jornalismo: o pagamento por fontes de informação. Renata desconversou sobre o pagamento e marcou um encontro em uma cafeteria. Lá, ela folheou o suposto ENEM e notou certas semelhanças nas questões que foram aplicadas em edições anteriores. Começou, então, uma corrida contra o tempo para as apurações com os criminosos e o Ministério da Educação, órgão responsável pela realização da prova. Horas depois, o governo federal confirmou que a prova roubada era a mesma que seria realizada três dias depois. Resultado: o exame foi cancelado.

A maratona das investigações pode ser encontrada no livro-reportagem “O Roubo do Enem”, escrito pela própria jornalista. É um livro que traz os bastidores e novas informações nunca reveladas ao público. A obra seria semelhante a outros livros-reportagens lançados no mercado editorial, se não fosse a experiência, o conhecimento e a grande memória de Renata para a produção. Dividida em 20 capítulos e 210 páginas, Renata apresenta a fundo a trajetória do ENEM, desde a sua criação, em 1998, passando por todas as mudanças ao longo de quase 20 anos – até a publicação do livro em 2017.

Ela ainda mostra ao leitor os diálogos, a tensão e os desafios enfrentados pelos gestores federais para que pudessem fazer do exame um marco educacional e referência para outros países, as ações dos bandidos para furtarem a prova na gráfica responsável pelas impressões e as ameaças de morte após a veiculação do caso, que levou a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo a implantar segurança para a jornalista. A publicação é um caso de diálogo virtuoso entre imprensa e o poder, assim como intitula o prefácio assinado pelo jornalista e professor da Escola de Comunicação e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Eugênio Bucci. Pode salientar também que mostra aos leitores uma aula prática de como exercer um bom jornalismo, com ética e veracidade.


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