Engenho da Notícia

Empresa de assessoria de imprensa, mídias digitais e relações públicas

Notícias

Desafios da longevidade: o idoso na relação com a sociedade

(08-08-2017) ARTIGO –  Por Maristela Negri O acelerado envelhecimento populacional e o aumento da longevidade
são fatos inegáveis e desafiam as políticas sociais e de saúde no Brasil.
Estima-se que nesse intenso crescimento, em 2020 o país será o sexto do mundo
em número de idosos, com aproximadamente 32 milhões de indivíduos acima de 60
anos. Em Piracicaba não será diferente! De acordo com dados do SEADE (Sistema
Estadual de Análise de Dados), até 2030 o número de idosos aumentará em 49%.
Atualmente, temos na cidade 58,3 mil pessoas na terceira idade, o que
corresponde a 15,2% da população.

 

Pois bem, alguns leitores podem pensar: o que eu tenho com isso?
Primeiro: o envelhecimento faz parte do ciclo da vida, todos irão envelhecer, a
não ser que morram antes. Segundo: todos, em algum momento terão os pais ou outro
familiar nessa fase da vida.

 

Às vezes, pensar sobre o processo de envelhecimento de nossos pais
e também no nosso causa estranheza e medo. Por isso, poucos falam, pensam e se
preparam. Creio que seja importante alertar: o aumento da população idosa
acompanhou o crescimento das doenças de caráter crônico-degenerativo, que
muitas vezes determinam o comprometimento físico e cognitivo, mudando o
panorama das condições de saúde da população brasileira. De acordo com dados
das pesquisadoras Lebrão e Duarte, estima-se que
70% dos idosos possuem alguma doença
crônica; 25% têm limitações em suas atividades de vida diária, diminuindo a
chance de serem independentes. Estas reflexões vieram por conta de minha
experiência mais recente com o adoecimento da minha mãe.

 

Estamos
vivenciando uma experiência que nos causa angústia, medo, dúvidas, cansaço,
reflexões e admiração. Minha mãe, de 86 anos, está internada e no prazo de duas
semanas voltou duas vezes ao hospital. Mas, não é uma realidade ao qual
estávamos acostumados. Minha mãe, uma mulher forte e saudável, agora ficou oito
dias hospitalizada. Um aprendizado para ela 
e para nós, os filhos. Tivemos que nos reorganizar, contar com o apoio
das cuidadoras, nos unir, nos acalmar,  ter
paciência e acreditar no atendimento hospitalar.

 

Enquanto minha
mãe estava no pronto atendimento, ela saiu da confusão mental e delírio, através
da oração, e ficou o tempo todo rezando. Quando resgatou a consciência falava
baixinho: “Hum… está um perigo, um perigo”. Aí eu perguntei: “O que está um
perigo?” ela respondeu: “Preciso me cuidar”. O que podemos concluir desse curto
diálogo: ela, no auge dos seus 86 anos, quer viver. E, sem dúvida, é no
exercício desse cuidado, dessa experiência, que entramos em contato com o nosso
processo de envelhecimento e com a consciência da finitude.

 

Por que
compartilhar esse episódio? Porque acreditamos que nunca acontecerá conosco,
mas estamos sujeitos às adversidades da vida. Acredito que esta constatação nos
leva à necessidade de uma reflexão sobre os desafios a serem enfrentados pelo
aumento da população idosa, nos aspectos sociais, econômicos, físicos, cognitivos
e culturais que caracterizam a sociedade contemporânea. Qual o significado que
atribuímos a todas essas constatações? Qual o significado que atribuímos ao
processo de envelhecer?

Acredito tratar-se de um fenômeno que faz parte do ciclo natural
da vida, configurando-se, porém, como um processo complexo, heterogêneo,
multifacetado em que cada pessoa vivencia essa fase da vida de uma forma que
envolve perdas e ganhos, encantos e desencantos, os quais são intensificados
conforme fatores internos e externos, considerando sua história particular, a
estrutura social e cultural onde o sujeito está inserido.   

 

Sem dúvida, o
desafio que se apresenta a todos: jovens, idosos, médicos, governantes é
atender a principal e mais saudável ambição dos idosos de hoje e de amanhã:
manter uma vida saudável, feliz, independente e autônoma. Os estudos de Marrano
e Goldenberg podem nos auxiliar com as ideais para conquistar uma velhice bem
sucedida: ter um projeto de vida; buscar o significado da existência; conquistar
e valorizar a liberdade; almejar a
felicidade; cultivar a amizade; viver
o presente; aceitar a própria idade
e as transformações corporais e superar os medos: o medo da velhice, da doença,
da dependência, da morte. Entender que envelhecer e morrer constituem o
processo natural da vida. É preciso que tenhamos consciência, vontade,
disciplina para que façamos escolhas ao longo da vida que contribuam para se
viver da melhor maneira possível.  

 

Importante
destacar que somos responsáveis pela construção de uma velhice ativa e
saudável, desde a infância. Famílias, escolas, empresas, organizações
comunitárias e órgãos públicos devem assumir iniciativas nesse sentido,
conforme recomendação da ONU no documento Madri 2002, elaborado a partir das
conclusões de Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento.

 

Podemos concluir
com a afirmação de que todos os segmentos da sociedade brasileira (público e
privado) devem ter a plena consciência de que a velhice é apenas mais uma fase
do ciclo de vida e como tal dever ser tratada, com respeito ao seu espaço no
contexto social. Aí sim, poderemos vislumbrar o caminhar para uma sociedade
ética e justa para todas as idades. Para tanto, faz-se necessário o
investimento em projetos e programas voltados ao cuidado com a saúde e promoção
do envelhecimento ativo e saudável ao longo do ciclo de vida, contando com a
participação de profissionais especializados e também com o próprio idoso como
protagonista desse cenário.

 

Maristela Negri
é professora e sócia-diretora do Centro de Longevidade e Atualização de
Piracicaba (Clap).
maristela@centroclap.com.br


Compartilhe:
WhatsApp Atendimento via WhatsApp