Engenho da Notícia

Empresa de assessoria de imprensa, mídias digitais e relações públicas

Notícias

O preço da tecnologia e da ilusão da perfeição – Por Alessandra Cerri

Imagine se da noite para o dia a internet parasse de existir… imagine que você não tem mais celular e que tudo voltou a ser feito por telefone fixo, fax ou presencialmente…imagine que você não pode mais pedir comida pelo aplicativo, ou assistir seus filmes nos seus horários…impossível né?

É inegável que a tecnologia nos trouxe inúmeros benefícios e é claro que não vivemos mais sem ela, afinal ela nos trouxe muitas vantagens e facilitou demais nossa vida. No entanto, estamos pagando um preço muito alto pela crença cega na perfeição que ela aparenta ou vende e a insanidade populacional crescente nos alerta para a necessidade de reavaliarmos o uso da mesma: ela é uma ferramenta para nos servir ou uma coleira que nos prende, conduz e sufoca?

Estamos vivendo numa sociedade que busca a perfeição em todas as coisas e em todas as pessoas. Num frenesi assustador vivemos imersos num mundo virtual perfeito onde tudo é lindo, onde a felicidade precisa ser vendida e ostentada a todo momento e onde as medidas de comportamento, estética, sucesso profissional e pessoal são padronizadas e cobradas implacavelmente.

O neurologista Leandro Teles comenta que estamos desconectados da realidade, mas que isso ele comenta que o bombardeio de perfeição e a alta dependência das redes sociais e das tecnologias está adoecendo a sociedade, levando ao aumento preocupante da ansiedade, depressão e problemas de auto estima.

Segundo o neurologista, a partir do momento que não somos treinados para desconectar passamos a achar que o estar conectado e o ser altamente tecnológico é o certo e “normal”. Com isso, acabamos por não perceber que estamos funcionando no piloto automático, nos tornando imediatistas em relação aos nossos desejos, perdendo a capacidade de vivenciar o presente e, não percebendo o quanto estamos sendo dirigidos pela coletividade ou até mesmo sendo manipulados pelos anunciantes por trás das redes.

Um outro grande problema é que não nos damos conta do tempo que ficamos imersos no mundo virtual (aliás, eles são feitos para ativar áreas cerebrais ligadas ao vício) e com isso como o nosso cérebro fica muito ativado mas sem finalidade gera uma grande quantidade de lixo mental.

Segundo a também neurologista, Anete Guimarães toda ocupação cerebral, ou seja, toda atividade cerebral feita com objetivo e que gere trabalho fortalece e cria redes neurais, fazendo com que nosso sistema nervoso central trabalhe de maneira coordenada, executando várias funções para atender as demandas, inclusive “limpando” os resíduos que são produzidos pelas células para responderem ao trabalho, uma nobre função das células gliais.

No entanto, quando ficamos “preocupando” nosso cérebro com atividades sem finalidade, atividades que não tem objetivo e que não nos leva a produzir nada criamos lixos mentais impossíveis de serem retirados pelo sistema ocasionando um acúmulo de material tóxico que torna nosso cérebro menos eficiente e mais vulnerável funcional e emocionalmente.

Usemos sim as tecnologias, são ferramentas que nos ajudam muito, mas sejamos conscientes do fato de que nada que está fora de nós mesmos pode trazer o verdadeiro significado da vida; usemos cientes da necessidade de estimular nossas próprias habilidades cognitivas. E, coincidentemente as maneiras mais eficientes de treinar essas habilidades e preservar o equilíbrio mental estão nos hábitos antigos como leitura, música, trabalhos manuais, exercícios físicos, jogos cooperativos, uma conversa real, meditação, espiritualidade etc

Dentro desse contexto, o escritor Yuval Harari salienta que três coisas são fundamentais para sobreviver nesse mundo altamente tecnológico: saber lidar com mudanças, aprender coisas novas em diferentes áreas e preservar o equilíbrio mental.

Finalizando cito uma frase de Leandro Teles que alerta para os perigos da tecnologia: “… plantam um perfeccionismo e um grau de cobrança que contaminam a sociedade que por sua vez evolui menos empática e mais intolerante…”

Usemos sim a tecnologia mas, como tudo na vida, usemos com moderação, usemos como um recurso que nos ajuda na caminhada e não como uma coleira que determina o ritmo, o padrão e o rumo da passada. Até a próxima, namastê!

* Alessandra Cerri é sócia-diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba (Clap); mestre em Educação Física, pós-graduada em Neurociência e pós-graduada em Psicossomática.


Compartilhe:
WhatsApp Atendimento via WhatsApp