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Salão de Humor: canal de comunicação para as críticas sociais

Piracicaba se torna a capital do humor gráfico. A fita vermelha foi cortada dia 31 passado e representada a abertura da edição que celebra os 51 anos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Evento de extrema representatividade e importância, ele reúne até 3 de novembro, no histórico Engenho Central 453 trabalhos, produzidos por 229 artistas, de 23 países, além de 19 mostras paralelas espalhadas em demais espaços piracicabanos.

 

O Salão de Humor teve início na década de 70 como repressão da Ditadura Militar e instrumento para a transformação social. Meio século depois ainda mantém o segundo propósito – dada as devidas circunstâncias de tempo e espaço: caminhando pelos expositores que dividem os trabalhos por categorias – charges, caricaturas, tiras, histórias em quadrinhos, esculturas, por exemplo, faremos uma leitura crítica sobre as ações que refletem de uma forma ou outra a comunidade em que estamos inseridos e uma reflexão da realidade política e social que nos envolvem. O humor gráfico pode até nos fazer rir, mas nos faz pensar e planejar o futuro que queremos para os nossos sucessores.

 

Nesta edição, a salvaguarda aos direitos dos povos originários, da criança e do adolescente, a proteção da biodiversidade e segurança pública são as pautas mais recorrentes nas obras desenvolvidas pelos artistas. Em um choque de realidade, mas não tão inesperado: em uma das obras em referência ao jogo Twister, um retrato de equilíbrio, força e estratégia para nos desenrolamos dos dramas cotidianos associados na saúde pública, miséria, pobreza e o poder daqueles que abusam das grandes fortunas e buscam uma sobressalência sem propósito algum. Pense, caro leitor: eu acompanho o Salão Internacional de Humor de Piracicaba há 11 anos e as temáticas são equivalentes a cada edição. Em uma década, assim como o evento se torna uma vitrine da realidade do cidadão, não foi possível o desenvolvimento para melhores políticas públicas?

 

Os 51 anos também é de celebração para o reconhecimento oficial de Cecília Alves Pinto como (a única mulher) fundadora da mostra. Expoente do humor, com maior longevidade nas histórias em quadrinhos no Brasil, Ciça, como é carinhosamente conhecida, iniciou trajetória na década de 60 como jornalista e ilustradora compartilhando expressões nas edições nacionais e internacionais na revista O Cruzeiro. Depois, o reconhecimento foi inevitável e suas criações foram compartilhadas em livros e demais veículos de imprensa. Uma influenciadora de gerações, bem como Hilde Weber que, poucos anos antes, em 1956, se consagrou como a primeira mulher a desenhar charges políticas no Brasil, e Nair de Teffé, primeira caricaturista da imprensa nacional, com retrato da atriz francesa Gabrielle Réjane. Três personalidades que escreveram a história do humor gráfico no país e que foram precursoras de inúmeras, detalhadas 100 delas em grande painel, descrevendo-as como “ousadas, corajosas e irreverentes”. Entretanto, essas características pela luta da igualdade e conquista de espaços, se mesclam com as dificuldades que a sociedade impõe. Em referência ao nome da exposição paralela com trabalhos de Fabiane Langona: “Viver Dói”. Mas, sem dúvida, as dores cessam (esperamos!)


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